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INÊS MARTO

INÊS MARTO

Roda a roda desta vida

"Roda a roda desta vida
Que é alquimia da dor
Raiz de mágoa incontida
Que arvorece em rubra flor

Roda a roda em simetria
Compasso proporcional
Secreta geometria
Pérola de choro e sal

Roda a roda em sapiência
Dessa ancestral harmonia
Cristalizada cadência
Transcendente em melodia

Roda a roda em conexão
Na profundeza de um verso
Se é um espelho o coração
No fluir do seu reverso

Roda a roda em ascendente
Para os eleitos da missão:
Ser do amor florescente
A sideral conjugação."

Psico(d)escrito * Inês Marto

12.06.2023
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Coração de madrepérola

Do armário das tristezas trespassei a colecção
Já não guardo dissecadas lágrimas em exposição,
Do pretérito imperfeito do teu nome conjugado
Só aprendi a leveza de te escrever no passado

E lamento se não soube ser o que quiseste usar
Diamante não é barro para aos teus planos se moldar,
Foi inútil a viagem, já não sou um benefício,
Entre a parede e a espada sou livre no precipício.

Se eu tenho alma salgada por sereia ter nascido
Reverbero a mensagem como um búzio ao ouvido:
Nesta vida em maré cheia amor é força motriz
De onde nasce a flor mais bela no seio da cicatriz.

Se era suposto ter medo do que chamas solidão,
Foi na queda que arrisquei que se deu libertação
E na paz do epicentro da minha alma em tempestade
Sou ciclone que ascende quando amanhece a verdade.

Só queria agradecer-te pelo quanto te chorei
Fez-se um sábio oceano onde me reinventei,
Coração de madrepérola hoje pulsa em poesia
Conquistada transparência desta eterna travessia.

Flor de esperança

Quantas canções se gastaram na tua lembrança,

No granito imune ao tempo destemida flor de esperança,

Há uma lágrima de prata a segredar o teu nome

Nesse palácio de espelhos que a madrugada consome

 

Quantas vezes apagaste o meu nome rarefeito

Entre a espada e a parede somos um sonho desfeito

Um equilíbrio fatal entre a queda arriscada

E o doce precipício que atravessa a madrugada

 

Eras a jangada audaz do grito sobrevivente

Mas a verdade desfaz a ilusão consciente

Toda farsa tem um fim, toda a lírica esmorece

Quebro o espelho carmesim onde o narciso floresce

 

Não há versos que nos salvem desta cortante evidência

Resto em rasgos das memórias onde impões a minha ausência

E se a seiva já se cansa de brotar em poesia

Não há flor que sempre alcance essa letal maresia

 

Se a despedida me mata mais do que a morte aguardada

Mais morria se guardasse a pérola envenenada

Que me sobra do teu beijo que hoje expulso em tempestade

Lâmina em cruz sobre o peito que faz jus à liberdade.

 

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A luminescência das águas

A luminescencia.png

"A luminescência das águas não afasta a saudade da transversal falésia.
Quiçá me tenha traído a avidez em pernoitar nos umbrais desse naufrágio,
Mas poderei julgar-me culpada, se em verdade só quis padecer de amor?
Peguei pela mão o reflexo, prenúncio de romãs entre os escombros
E o superlativo fôlego revelou-se em negativos celofanes,
Difusos os contornos dos corpos na travessia insubmissa da consumação
E o sabor das bocas e dos astros e das esperanças diluídas num só gesto,
Essa eternidade que se resumia num ardente pavio a dispensar o amanhã.
Mas nem só dessa translúcida sede vivem os poetas e os loucos.
Não me resta sal nas lágrimas para a madrugada impoluta que se acendeu
E em cada grito sangra um lírio erguido à indelével renascença
Disseco o peito, inequívoco relento da torácica consciência
E sei-me florescente pérola de poética suficiência."

Inês Marto . 27/02/2023

Não há fôlego que nos salve

Citação Frase Papel Kraft Instagram Post.png

 

Hoje escrevo para ti,

como não fazia há

tanto

tempo

na impossibilidade de afogar em nova esperança

o que podia ser feito de nós

Digo-te que senti

Que sinto

Sinto tanto a tua falta,

Fundem-se as tuas lágrimas nas minhas e

não há fô-

lego

que nos salve

do que de ti me ficou impresso no corpo

Não há pontos

finais

as palavras não fazem

sentido algum

ou talvez sim

talvez o sentido seja

o sonho

que é como dizer, talvez o sentido sejas

tu

ou o que de ti eu resto

Alquimia de tinta

reencontro

nesses laivos de poema

onde te abraço

sem tempo

Vem, fica, hoje não quero acordar…

Fora eu raiz

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Fora eu raiz

Para o que tenho de pássaros.

Fora eu carne e cicatriz

Para o que de mim são versos.

Terra que me albergue os lírios submersos.

Animal, instinto.

Solo, chão, primal, consciência.

Não-controlo, não-teorema, não-coerência.

Fora eu o contra-senso e a ousadia da ausência.

Buscar a minha fundura, revelação de horizonte.

Salto a fogueira e o abismo. Inspiro fundo.

Mergulho. Desfio-me o próprio mundo.

Sobrevivente coroada no tribunal do além.

Desenquadrada, ilimitada, amanhã serei liberta de tudo o que me contém.

Lamberei das minhas feridas

O sal que alada me ergueu

Eternamente aprendiz desse xadrez que sou eu.

Na ausência de mim

Na ausência de mim

Afloro ecos de vazio,

Corro como um rio,

Desenho as minhas desventuras,

Percorro os meus cansaços.

 

No embalo dos fantasmas

Sou erupção latente,

Sou mais água do que gente.

 

E no caudal que deixo

Que me recordem os olhos de mistério,

Pois se a morte nada pode

Hei-de ter no fim etéreo a minha libertação

De ter nascido para a vida derradeiro teorema de intangível solução.

 

No escuro sou essa sede

De encontrar o meu lugar,

Mas se a vida não me abraça

Resta-me sulcar caminhos apenas no navegar

E despontar num sorriso, mesmo em raiz de amargura

Pois neste rio indeciso

Sustém-me a minha loucura.

Dear myself: a letter of apology

Dear myself, I owe you…

I shattered the bottle on the wooden floor

My sloppy fingers couldn’t hold it anymore

Numbed away in a wine riptide

As I sit, as I fade, as I subside…

 

Dear myself, no tears are left in this slow motion…

Lost lucidity, washed emotion

My mouth has made a pact: liquid sedation,

Drowning myself, remain unfelt as a salvation

 

Dear myself, before I collapse,

I whispered all I couldn’t say into the glass

Dear myself, here’s my confession

Flooding the room, this spilled expression:

 

Dear myself, I owe you love

And a full gaze into my own abyss

And a kiss for every bullet, hit and miss

Of trying to finish you with no pitty,

Dear myself, I owe you dignity

And not just a mere plastic bag reputation,

A dysfunctional cage, lifetime incarceration.

 

Dear myself, I owe you time, I owe you space

For every dawn I stayed awake, wishing to self-erase

Dear myself, I owe you sorry, again and again

For my own hands against my throat wishing to die

For the self-hate, the self-harm, self-sabotage, self-muted-cry

 

Dear myself, I owe you understanding

I pushed you down, but you kept standing,

For all the scars I never saw as warrior spears

For all the flaws I kept hiding, unlived years

For all the times I never let myself shine through

Decades squeezing into forced normality world view

 

Dear myself, I owe you freedom and dreams came true

Dear myself I owe you gratitude, empowerment, I owe you,

Dear myself, an embracing lap to rest your head from my own violence,

And breaking free from my own ghosts, new world to breathe, new existence

A cosmic dance to fall in love like it should have been

A true restart, dear myself, reborn within.

Contrasting wolves

My body is a room full of ghosts
Its walls made of frail bones, cracked stones
Broken light rays hazing through the holes, made-up windows
Violet and green hues collide, neon existances side-by-side
Contrasting wolves fight for expression
In a crystal chamber of ressurection
Ever-changing shadows, they fill my soul
Daunting growls of fear echoe through my skull
My heart's an ever expanding bomb ready to collapse
Counting my final days by a stop-motion time-lapse
As I sit still hallucinating by the sea
The wolves, they fuse themselves psychadelically
In the dark room of dispair, their sillouettes embrace
Ether floods the air, body seizes, there's no place
Nowhere, no clocks, seizure of shattered bones and rocks
The void of materiality bursts finally
Violet and green they set me free

Circo de pedra

Há dentro de mim ruínas invisíveis. Ossos do ofício de me desmoronar como um trago para essa sede maior. Coliseus devolutos do circo de feras de pedra que me dançam na cabeça.
Saltas o muro. Não te afligem os destroços. Caminhas no meu abandono como palma da tua mão. Apanhas do chão as pedras caídas do meu trilho. As que se fizeram cicatrizes insolúveis.
Olhas-te ao espelho partido que sobreviveu à erosão. Toca-lo. Revês-te. Fundes-te. Mostras-me as estátuas do teu circo. Ambas cobertas do pó e do musgo de que se faz a solidão.
Na tua alquimia de ser humana, fazes das minhas pedras perdidas bolas de sabão entre os teus dedos. Agarras-me. Envolves-me. Sem dizeres mais, jogamos de caras no mesmo tabuleiro de contrastes.
Ensinas-me o xadrez de estar viva. Descobres-me o mundo por dentro dos olhos, descobres-me a vida por dentro da pele, descobres-me o perfume por dentro da alma.
Passeias na minha distopia como uma primavera sem relógios. Vais-me tacteando as peças.
A tua distopia é uma praia rochosa. A minha um antro de anseios caído aos céus. Sento-me escondida entre as tuas rochas. Observo-te o mar. Absorvo-te. Aprendo-te. Temos a pedra em comum.
Ao sabor do nosso vento, há um jardim junto ao mar onde se plantam as estátuas da nossa fraqueza. Erguer um trono ao vulnerável, torná-lo fogo a céu aberto: esse é o nosso acto de amor.
No nosso circo de pedra, só esperamos uma coisa: verdade. Já tenho onde cair viva.