Do armário das tristezas trespassei a colecção Já não guardo dissecadas lágrimas em exposição, Do pretérito imperfeito do teu nome conjugado Só aprendi a leveza de te escrever no passado
E lamento se não soube ser o que quiseste usar Diamante não é barro para aos teus planos se moldar, Foi inútil a viagem, já não sou um benefício, Entre a parede e a espada sou livre no precipício.
Se eu tenho alma salgada por sereia ter nascido Reverbero a mensagem como um búzio ao ouvido: Nesta vida em maré cheia amor é força motriz De onde nasce a flor mais bela no seio da cicatriz.
Se era suposto ter medo do que chamas solidão, Foi na queda que arrisquei que se deu libertação E na paz do epicentro da minha alma em tempestade Sou ciclone que ascende quando amanhece a verdade.
Só queria agradecer-te pelo quanto te chorei Fez-se um sábio oceano onde me reinventei, Coração de madrepérola hoje pulsa em poesia Conquistada transparência desta eterna travessia.
"A luminescência das águas não afasta a saudade da transversal falésia. Quiçá me tenha traído a avidez em pernoitar nos umbrais desse naufrágio, Mas poderei julgar-me culpada, se em verdade só quis padecer de amor? Peguei pela mão o reflexo, prenúncio de romãs entre os escombros E o superlativo fôlego revelou-se em negativos celofanes, Difusos os contornos dos corpos na travessia insubmissa da consumação E o sabor das bocas e dos astros e das esperanças diluídas num só gesto, Essa eternidade que se resumia num ardente pavio a dispensar o amanhã. Mas nem só dessa translúcida sede vivem os poetas e os loucos. Não me resta sal nas lágrimas para a madrugada impoluta que se acendeu E em cada grito sangra um lírio erguido à indelével renascença Disseco o peito, inequívoco relento da torácica consciência E sei-me florescente pérola de poética suficiência."
My body is a room full of ghosts Its walls made of frail bones, cracked stones Broken light rays hazing through the holes, made-up windows Violet and green hues collide, neon existances side-by-side Contrasting wolves fight for expression In a crystal chamber of ressurection Ever-changing shadows, they fill my soul Daunting growls of fear echoe through my skull My heart's an ever expanding bomb ready to collapse Counting my final days by a stop-motion time-lapse As I sit still hallucinating by the sea The wolves, they fuse themselves psychadelically In the dark room of dispair, their sillouettes embrace Ether floods the air, body seizes, there's no place Nowhere, no clocks, seizure of shattered bones and rocks The void of materiality bursts finally Violet and green they set me free
Há dentro de mim ruínas invisíveis. Ossos do ofício de me desmoronar como um trago para essa sede maior. Coliseus devolutos do circo de feras de pedra que me dançam na cabeça. Saltas o muro. Não te afligem os destroços. Caminhas no meu abandono como palma da tua mão. Apanhas do chão as pedras caídas do meu trilho. As que se fizeram cicatrizes insolúveis. Olhas-te ao espelho partido que sobreviveu à erosão. Toca-lo. Revês-te. Fundes-te. Mostras-me as estátuas do teu circo. Ambas cobertas do pó e do musgo de que se faz a solidão. Na tua alquimia de ser humana, fazes das minhas pedras perdidas bolas de sabão entre os teus dedos. Agarras-me. Envolves-me. Sem dizeres mais, jogamos de caras no mesmo tabuleiro de contrastes. Ensinas-me o xadrez de estar viva. Descobres-me o mundo por dentro dos olhos, descobres-me a vida por dentro da pele, descobres-me o perfume por dentro da alma. Passeias na minha distopia como uma primavera sem relógios. Vais-me tacteando as peças. A tua distopia é uma praia rochosa. A minha um antro de anseios caído aos céus. Sento-me escondida entre as tuas rochas. Observo-te o mar. Absorvo-te. Aprendo-te. Temos a pedra em comum. Ao sabor do nosso vento, há um jardim junto ao mar onde se plantam as estátuas da nossa fraqueza. Erguer um trono ao vulnerável, torná-lo fogo a céu aberto: esse é o nosso acto de amor. No nosso circo de pedra, só esperamos uma coisa: verdade. Já tenho onde cair viva.