"Gostava de dizer-te sem lágrimas nos olhos e peso no peito por não pertencer, sem ver o meu nome desvanecer desse lugar turvo que me resta no entretanto da memória. Gostava de dizer-te mas não sei olhar-te sem o chão tremer, os teus olhos devolvem-me o eu que já não sou fragmentado em arabescos cadentes de futuro. Gostava de dizer-te mas não te sei largar a mão sem desabar e não gosto de chorar, mas não te sei conservar margem impoluta do inexorável sufoco com que(m) desenhas caminho. Gostava de dizer-te: Prefiro que vás, sempre te soube nocturna Primavera e às Primaveras há que deixá-las ir sem lhes pedir eternidade."
Do armário das tristezas trespassei a colecção Já não guardo dissecadas lágrimas em exposição, Do pretérito imperfeito do teu nome conjugado Só aprendi a leveza de te escrever no passado
E lamento se não soube ser o que quiseste usar Diamante não é barro para aos teus planos se moldar, Foi inútil a viagem, já não sou um benefício, Entre a parede e a espada sou livre no precipício.
Se eu tenho alma salgada por sereia ter nascido Reverbero a mensagem como um búzio ao ouvido: Nesta vida em maré cheia amor é força motriz De onde nasce a flor mais bela no seio da cicatriz.
Se era suposto ter medo do que chamas solidão, Foi na queda que arrisquei que se deu libertação E na paz do epicentro da minha alma em tempestade Sou ciclone que ascende quando amanhece a verdade.
Só queria agradecer-te pelo quanto te chorei Fez-se um sábio oceano onde me reinventei, Coração de madrepérola hoje pulsa em poesia Conquistada transparência desta eterna travessia.
Chorei a última lágrima. Do parapeito dos teus sonhos conquistados derramaste para a rua o que deixou de te servir. Tens lugar de camarote para o sacrifício dos iludidos. Continuas a ler o que escrevo. Sísifo da tua culpa, assistes de longe à morte da borboleta, buscando absolvição no aplauso contido ao derradeiro final. A máscara está gasta, pesa-te o remorso, mas digo-te que descanses. A morte é leve, não deixa espaço a cobranças na bagagem. Podes pousar o sufoco, as coisas são o que são. O ciclo só recomeça no suplantar da lição, Sem morrerem borboletas não se daria a ascensão, Abrirei futuras asas, é essa a libertação.
O tempo está tão perdido quanto o meu batimento cardíaco a ecoar no vazio das costelas, não resto eu suficiente para preencher o corpo que habito. Perdura o contorno dos teus lábios no interior das lembranças sinuosas que deixaste. Pergunto ao silêncio como derramar a tua ausência para fora da pele, responde-me na cadência lenta da dor cada letra do teu nome. Pudessem as lágrimas ser oferendas, talvez matasse por fim a sede à Deusa dos masoquistas. Quantas vezes renasceste, para limpar das mãos etéreas as manchas das flores que sangrei esmagadas contra o peito da Medusa que enfrentei? Cravas a própria faca, empunhas o espelho, e no final és coroada magnânima estátua do sacrifício mais belo. Quiçá tivesses ficado, fosse recíproca a ruptura, quiçá se também reflectisse e te petrificasse projectada em amargura. Não soube ser mais que amor, só que nem sempre em beleza pode alastrar a raiz. Há que deixar que a flor siga a seiva que a reverbera. E do meu tórax em ruínas hei-de erguer a Primavera. . . . #textposts#textos#textosemportuguês#instawrite#instawriters#escritoresdeinstagram#linguaportuguesa#textpost#writingcommunity#writersnetwork#writer#autoresportugueses#texto#frase#frases#quote#quotestagram#inesmartoofficial#inesmarto_writes#inesmarto
"A mim o que me apaixona é a inteligência: intelectual, emocional, intuitiva, humana, mística, existencial.
Só que a inteligência é inerentemente reivindicativa e posicionada. A inteligência não é capaz de se adormecer nem de se cegar a si mesma, para compactuar com os lugares de conforto.
Essa mesmice que vai no mundo é um sufoco.
A quantidade de pessoas que encolhem os ombros perante as injustiças diárias que presenciam é aterradora. Alegam neutralidade, esquecendo-se, ou não se querendo lembrar, que essa passividade, não contrapondo o opressor, é complacente com ele e legitima-o.
Não, não é possível estar do lado das vítimas enquanto se bebe chá com quem as põe nesse lugar.
É essa cobardia que, sendo assustadoramente substancial, passa impávida e serena pela falta de humanidade que existe neste mundo e lhe permite continuar a existir.
O sistema começa no indivíduo. O colectivo é simultâneamente reflexo e reflector do individual. Cada vez que fecham os olhos às opressões do dia-a-dia, vocês são cúmplices.
Leiam outra vez: Vocês. São. Cúmplices.
A neutralidade face à opressão é um pano roto que a cobardia inventou para se tapar. E não são os likes nem as partilhas dos posts que vos absolvem a consciência, esse é outro pano roto.
Antes que deixem de me ler aqueles que se assustam ou se entediam com a política, este texto não é sobre política, é sobre humanismo. Se política e humanismo não são a mesma coisa, talvez o problema comece por aí.
O sistema vigente, superlativo e intocável, é uma tortura diária. A vigência supremacista do enraizado normativo, patriarcal, misógino, cishetero, capacitista, racista, conservador e classicista - não é opinião nem é política, é matança - também é culpa da vossa tão querida e confortável neutralidade.
Só não sei se é falta de inteligência, ou recusa consciente da mesma.
Seja como for, deixei de ter tempo e espaço na vida para outra coisa que não o amor."
A invisibilização da comunidade LGBTQIA+, das pessoas com deficiência, das pessoas racializadas, é propositada, sim!
A desigualdade de oportunidades é propositada, sim!
A inclusão ainda é uma bandeira que o sistema cisheteronormativo, misógino e patriarcal levanta quando lhe convém ficar bonito ou ser mais exótico.
O reconhecimento da pluralidade ameaça-lhes os alicerces bafientos das estruturas de poder.
A nossa luta só acaba quando ruir a supremacia!
Enquanto este povo não tirar o pó aos cantos do cérebro (sim, quadrado) e tiver até um certo orgulho na pequenez de espírito, será assim.
Há que contrariar esta invisibilização propositada na sociedade em geral, que é tristemente tão eficaz que, até muitas vezes dentro da(s) comunidade(s), se torna difícil descobrirmo-nos umes aes outres. Isso precisa de mudar.
Quanto mais nos tentarem apagar sistemática e sistemicamente, mais teremos de nos fazer ouvir, ver, ler, reconhecer e ocupar. Queiram ou não queiram.
Um dia, não serão mais eles, os opressores, a ter poder de escolha sobre a nossa existência. E o quanto lhes dói o medo desse dia... É por isso que se incomodam tanto.
Pontapé na porta. O mundo não se fez aos quadrados, (não) temos pena.
"A luminescência das águas não afasta a saudade da transversal falésia. Quiçá me tenha traído a avidez em pernoitar nos umbrais desse naufrágio, Mas poderei julgar-me culpada, se em verdade só quis padecer de amor? Peguei pela mão o reflexo, prenúncio de romãs entre os escombros E o superlativo fôlego revelou-se em negativos celofanes, Difusos os contornos dos corpos na travessia insubmissa da consumação E o sabor das bocas e dos astros e das esperanças diluídas num só gesto, Essa eternidade que se resumia num ardente pavio a dispensar o amanhã. Mas nem só dessa translúcida sede vivem os poetas e os loucos. Não me resta sal nas lágrimas para a madrugada impoluta que se acendeu E em cada grito sangra um lírio erguido à indelével renascença Disseco o peito, inequívoco relento da torácica consciência E sei-me florescente pérola de poética suficiência."